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terça-feira, janeiro 10, 2006

10 de Janeiro de 2003

Pouco perto das 19:30 do dia 9 de Janeiro, sentiu aos dores galoparem a velocidade vertiginosa, sabia que estava a chegar a hora que há nove meses esperava…

Calma e serenamente dirigiu-se à maternidade, esperando a sua vez de ser atendida e ouvir a confirmação que era a hora certa…

Era a primeira filha, como tal era impossível não haver uma certa “curiosidade” de como tudo se ia passar.

Pouco passava da meia-noite quando as dores intensificaram como a convidar a pequena para vir respirar um outro ar, ver uma outra luz e conhecer um novo mundo…

Pediam à jovem mãe que fizesse força, que a criança estava quase a nascer e nesse ultimo esforço, quando pensava que já não teria mais força para ajudar, de punhos cerrados, sai a pequena do ventre às 1:17 da madrugada com 3.630kg, não chorou…a primeira pergunta feita foi se era perfeitinha, a resposta logo soou, tem todos os dedinhos nas mãos e todos nos pés e é uma princesa LINDA…No recobro a jovem mãe não conseguia aguentar a ansiedade de pegar no seu rebento, de sentir o cheiro do ser pequenino que dentro de si gerou, tão carinhosamente durante 9 meses. Finalmente a enfermeira deita-a ao pé da mãe. – É uma valente nem chorou nem nada, vamos ver o apetite que tem este bebé…

Recusou veemente o peito que a esperava com mais amor e carinho do que propriamente leite para lhe dar…era o primeiro contacto, era a criação de laços maternos que se cravam na memoria para sempre…

E o que se passou ficará sempre marcado na memória, será sempre impossível de esquecer…ao recusar o peito, tentaram dar-lhe biberão. À primeira sucção foi logo detectado que algum problema havia, o leite fez retorno na totalidade, obrigando a uma aspiração…A princesa foi levada do alcance dos olhos da mãe, só tornando a ter notícias através de uma médica…

De olhos fitados na médica, só lhe saíram da boca as seguintes palavras:

- Quero saber toda a verdade sem rodeios, preciso de saber tudo…

Em termos médicos e práticos a resposta foi simples… Desconfiasse de uma Atrésia do esófago, não se sabendo bem as condições e a extensão, foi introduzida uma sonda naso-gastrica que não atingiu mais do que 8 cm, só um exame poderá confirma as suspeitas e a única hipótese é uma intervenção cirúrgica, que lhe podemos garantir rapidamente porque nasceu com um bom peso…ou seja, não tem ligação ao estômago e tudo o que engole volta para trás, não podendo por isso comer, e estar constantemente a babar-se…Fica nos cuidados intensivos, à espera do exame de confirmação, ventilada e aspirada, à espera da equipa médica de intervenção…

Deitada na enfermaria, só, completamente só, ninguém mais sabia e assim teve de aguentar a dor, que nada se comparava a uma dor física, mas sim uma dor na alma na incerteza da sua princesa…

6:30 da manhã pede para a deixarem ir ver a princesa, ainda nem tinha olhado para ela, foi encaminhada a uma sala de luz semi serrada, que lhe pareceu gigante, cheia de pequenas caixas de plástico que a falta de lucidez e o cansaço do parto não deixavam ver que eram incubadoras, cada uma “encerrando” a dor de uma outra mãe…

Era a incubadora 12, ali não havia nomes só números…lá estava pequena, rosada, a cravar-se na memoria os tubos e o som da aspiração constante, com a dificuldade de respirar…chamada pelos médico vê-se obrigada a entender os termos de responsabilidade que lhe colocavam à frente, tinham de ser iniciados os processos de intervenção, a equipa estava pronta, tinha de conhecer os riscos e tinha que os aceitar…

Só às 14:30 é que pode contar ao familiares que a vinham felicitar e ter conhecimento que algo mais se passava…só às 19:00 teve conhecimento que a intervenção tinha terminado, tinha sido necessário, esticar o esófago, pois estava descontinuado em dois pontos, tinha havido também a necessidade de “arranjar” uma fissura num pulmão…como todos os casos as primeiras 48 horas seriam criticas, mas a recém-nascida seria mantida em coma controlado durante pelo menos duas semanas, ligada a respiração artificial, alimentada por cateter directamente ao coração, com monitorização constante 24 horas sobre 24 horas nos cuidados intensivos, das seis incubadoras era a bebé da quatro…

E assim durante duas semanas era amada e mais que amada através do plástico da incubadora, enquanto dormia no seu sono forçado…

Foram as duas semanas mais complicadas e que mais marcadas ficaram na memoria, aquelas que em Janeiro não posso deixar de recordar inconscientemente e pensar o quanto ela foi uma lutadora, nasceu e venceu… é uma vencedora nata…Hoje triunfa os seus três aninhos de rebeldia, personalidade forte, independência quando não a tem, garra e teimosia, muita teimosia… Mas hoje não podia deixar de dizer alto e em bom som…

PARABENS minha princesa pelos teus lindos 3 aninhos…

1 Comments:

Blogger Politikos said...

«Tudo está bem quando acaba em bem». Essa é uma história de sucesso. Na «mecânica» e nas «canalizções» a medicina é rainha... Ainda bem para ela, ainda bem para ti. Parabéns.

11 janeiro, 2006 00:36  

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